A palestra “Contribuições dos jogos eletrônicos na formação dos alunos” foi o segundo evento do Congresso Educação Criativa e Gamificação, patrocinado pela ECDD – Escola de Comunicação e Design Digital do Instituto Infnet – no dia 15 de agosto. Nela, a supervisora de psicologia do Colégio Pensi, Ana Coquito, explorou a capacidade dos jogos de auxiliar no desenvolvimento infantil e adolescente. A própria palestrante se introduz como “nintendista”, isso é, fã de jogos da Nintendo, e demonstra sua tristeza pela, em suas palavras, “demonização dos jogos eletrônicos, como se fossem realmente os grandes vilões da educação e da nossa sociedade.”
Profª Coquito começa sua apresentação analisando o que ela mesma aprendeu com games ao longo de sua vida. Ela afirma que há dois vieses principais quando se trata do ensino através de jogos, a educação cognitiva e a emocional. Jogos simples como os da série Mario auxiliam principalmente no desenvolvimento inicial, Profª Ana explora mais a fundo suas possibilidades. Ao analisar a famosa série de jogos da Nintendo, ela explica como jogos exigem uma flexibilidade cognitiva, pela necessidade de pensar “fora da caixa”. Ela usa como exemplo o personagem Yoshi, que a princípio é um simples meio de transporte, mostrando a significância do jogador poder passar dessa definição original e usá-lo como trampolim, arma etc. Essa necessidade de explorar suas opções também desenvolve o raciocínio, afinal, todos os jogos apresentam problemas, desafios, que precisam ser resolvidos. Ademais, jogos têm diversas regras que normalmente não são explícitas. Jogadores estão acostumados a aprender através da tentativa e erro, desenvolvendo a extração de regras.
Não só isso, mas jogos também aumentam a psicomotricidade – a união do cognitivo ao motor. A Profª Coquito usa como exemplo a dificuldade de mudar de consoles, pois os controles mudam e os botões são ressignificados. Ela acrescenta como diversas universidades famosas usam jogos em habilitação neuropsicológica e como a simples menção de um jogo é o suficiente para motivar e animar adolescentes e crianças.
Em seguida, Profª Ana apresentou o jogo Overcooked como outro exemplo de incentivo de desenvolvimento cognitivo. Seu primeiro ponto positivo é o fato de ser multiplayer, um incentivo para socialização. É um jogo com muito estímulo, podendo até ser confuso, e isso faz com que seja uma ótima forma de incentivar o desenvolvimento. Ele exige que o jogador faça diversas ações ao mesmo tempo, aprendendo organização e planejamento, atenção seletiva e sustentação da atenção. Não só isso, mas o jogo também desenvolve a memória operacional, o que costuma ser um desafio para psiquiatras.
Focando no viés da educação emocional, Profª Coquito traz o exemplo da série de jogos Zelda, pelo qual ela tem muito carinho. O jogo possui muitas opções e um mapa grande o suficiente para o jogador se perder, demandando uma persistência do jogador. Também é necessário paciência. Ela dá o exemplo de como, enquanto estava jogando, ela precisou esperar o tempo de 5 dias no tempo do jogo para seguir a história, “tive que ficar uns 10 minutos olhando para a tela de Zelda para fazer aquilo acontecer”. Por último, Zelda, assim como todos os jogos, faz com que os jogadores aprendam a lidar com frustração. Você vai se perder, não saber o que fazer e morrer, isso faz parte do jogo.
E é essa ação de morrer que a professora acha essencial para o aprendizado, “eu gosto muito do fato deles usarem esse verbo, continuar”. O fato que todos os jogadores estão acostumados com a tela de “Game Over” ajuda a acostumá-los a erros. “Jogos me ensinam constantemente que o erro é uma chance de recomeçar.” Atualmente, o erro é muito mal visto, as pessoas o tratam como uma incapacidade ou fracasso. Mas, ao jogar, você percebe que o erro é muito comum. Alguns jogos até esperam que você erre para, a partir desse erro, aprender o que fazer. “O erro é só mais oportunidade e ele faz parte do processo, da vida e da aprendizagem também”.
Por último, a Profª Ana finaliza: “mais até que a minha escola, o jogo me ensinou a aprender.” Não por conta do incentivo de deduzir as regras e mecânicas através de observação, mas também pelo fato de que você aprende quais processos de aprendizagem funcionam para você. Às vezes você prefere tentativa e erro mas às vezes um tutorial escrito é mais fácil, outras vezes as instruções visuais, como um vídeo, parecem mais simples etc.
Na sua conclusão, a palestrante chama atenção de que, nesse momento de incerteza, todos estão se reinventando, a educação inclusive. E é essa esperança na educação que está nos fortalecendo. Em suas palavras, “lutando pela educação todos os dias, em todos os minutos que a gente consegue continuar lutando quando a gente acha ou quando parece que muita coisa está perdida.” Ela ressalta que a educação é o meio mais eficaz de transformar e que jogos são um instrumento riquíssimo para a mesma e até de mudança social.